quinta-feira, 28 de abril de 2016

O disfarce acabou


A vida não pára. Mas quem decidiu parar essa madrugada fui eu. Estava tudo corrido demais, me preocupando demais, me consumindo demais. Se você estivesse aqui, com certeza me entenderia. Mas o que restou? Aliás, quais foram as coisas que restaram? Porque você se foi. 

Tem aqui aquela sua poltrona preferida, me olhando descaradamente. Tem um par de meias no canto da sala que ainda não consegui retirar. Tem a marca no sofá do ketchup que você derramou na última vez que pedimos aquela "nossa pizza preferida". Tem até os olhinhos do nosso cachorro, é um olhar perdido, vago, me implorando a sua volta. E ainda tem sua camiseta no baú do banheiro e a toalha atrás da porta com o seu cheiro de sabonete fresco. Tem tanta coisa que me lembra você, num lugar que era tão pequeno, mas ficou tão grande desde que foi embora. Tem tudo e não te tem. Confuso. Preocupante.

Estou ficando com dó de mim, vai. E acho que preciso sentir um pouco esse silêncio aqui dentro de mim mesmo. Preciso explicar para o Téd que você abandonou todo mundo e nem se preocupou em dar explicação. Tenho que fazê-lo entender que não adianta ficar atrás do sofá te esperando pra ir passear às cinco. Preciso explicar para a televisão que não quero mais saber se o São Paulo vai jogar na quarta ou no domingo, que eu não quero nem passar pelos canais de esporte, se der para pular... Estou aceitando. Preciso fazer tantos acordos por aqui e não consegui fazer nem comigo mesma. 

Ah, o armário da cozinha quebrou e eu tive que trocar sozinha. Me deu um desespero quando segurei naquela furadeira. Quis te ligar, mas aprendi a trocar os parafusos. Consertei do meu jeito meio tosco. Mas a porta está fechando direitinho agora. (Se bem que se recebesse a sua visita, com certeza olharia torto para ele). Até a luz do banheiro queimou. Acho que está todo mundo com raiva de mim nessa casa, e dessa vez a culpa nem foi minha. Um metro e sessenta e cinco é uma altura que não me permite trocar lâmpada sem cadeira ou escada, lá fui eu. Deu um aperto no peito, porque se você chegasse naquele momento, morreria de rir da cena. Se bem que se estivesse por perto, ficaria te olhando trocar a luz deitada no sofá da sala. Sempre te achei tão meu, tão rapaz bem resolvido. 

E veja só. Preciso explicar que o fim chegou cedo demais. Que estava tudo bem, quando o mundo desabou sobre nossas cabeças. Você esqueceu de se importar e agora não restou nada desse lado aí. 
Enquanto aqui só tem saudade.

Ei, espera.
Acabei de encontrar um álbum nosso no canto da mesa da sala. Que lindo você sorrindo. Mais uma vez vem a saudade, e a insônia, minhas companheiras das últimas semanas. E tem o Téd também. Vem, Téd. Eu te abraço nesses 16 graus do Rio. Eu esquento suas patinhas e você o meu pé. Não é a mesma coisa, eu sei. Mas vamos tentar recomeçar.

2 comentários:

  1. Oii Mart! Parabens pelo texto. Rola isso nos relacionamentos ne? As vezes acaba primeiro pro outro. Enfim.. triste HAHAAHAH. Mas acho que voce passou toda essa situacao muito bem no teu texto. Voce escreve com sentimentos, e eu adoro. Beijo beijo

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    1. Com certeza! Fico feliz que tenha gostado, Rebeca! Se você tiver um blog ou site, manda aqui! Beijos.

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