terça-feira, 23 de agosto de 2016

Nada pode ser em vão


Para alguns, que acompanham apenas as minhas fotos sorrindo, a vida que levo tem sido fácil. Ter mudado de cidade foi algo totalmente pensado. Morar em um apartamento próximo a universidade que, ainda por cima é pública, de um curso renomado, é simplesmente demais. Levar essa vida, ainda, aos dezenove, aí sim é de sonhar. Quem me dera.

Tudo isso tem sido na marra, na raça, no corre corre. Tem acontecido porque minhas vontades, minha garra tem persistido. Porque minha família tem me dado base pra não pirar. Porque, sinceramente, só eu sei das crises que já tive até aqui. Das noites mal dormidas, das insônias, dos almoços que não fiz, dos cafés da manhã que não deram tempo, da chuva que tomei andando a pé, das poças d'água que me afundei correndo atrás de ônibus. Porque é lindo comentar vendo uma foto estampada nas redes sociais. Mas quem tem coragem de ir além? Quem tem coragem de tirar um tempo pra perguntar se o outro está verdadeiramente bem?

As vezes me bate aquela inveja dos hippies urbanos, das pessoas que fazem teatro, dos caras que nem sabem quem são direito, mas são. Vivem. Não levam a vida tão a sério. Confesso que dá uma vontade danada de sumir no mundo, redirecionar tudo, deixar a bússola apontar. 

Nesses três anos e meio já perdi as contas de quantas vezes pensei em jogar tudo para o alto, de voltar para os braços dos meus pais e o colo dos meus irmãos. É porque dói ver que já não participei de tanta coisa. Dói saber que tive que deixar tanta história pra trás. Dói, sabe? E foi a vida que me direcionou assim.

Tento, muitas vezes, não me tornar uma pessoa melancólica, autodestrutiva, negativa, mas as vezes preciso desabafar, senão eu piro. Juro. Fui parar em psicóloga três vezes. Já sentei naqueles sofás na intenção de só esvaziar. Sabe como? Chorando, sem parar. Quem precisa saber disso? Quem se importa? 

É um alto preço viver longe de casa, de quem te ama de verdade. Eu sei. Sinto falta das coisas mínimas. É que dá saudade. E a saudade tem um significado gigante. 

Já sentei muitas vezes em bancos só para repugnar como as pessoas andam com pressa, com a mão no celular e a outra correndo ao lado do corpo. Que vida é essa? Não aceito. Não admito ser só isso. Seria uma máquina, que tem que concluir uma faculdade, fazer um cursinho, passar em um concurso e estar empregada, com carro zero aos 25? Não faço disso minha obrigação. Não quero me incluir nessa loucura.

Foi caminhando sozinha que percebi o valor das coisas. Muita ainda não aprendi, mas estou crescendo. Juro. Virei amiga da moça da lanchonete, tirei horas da minha vida falando sobre o pão de queijo e o café que tanto combinam. Só precisava conversar com alguém. Virei colega do rapaz que vende marmita, e um dia, quando sem dinheiro eu estava, ele deixou que eu comesse sem pagar. É que eu estava sem tempo pra explicar o porquê da minha vida ter virado tanto em tão pouco tempo.

Virei amiga da dona da farmácia, parecia que ela me entendia quando me olhava nos olhos pra entregar mais uma cartela de remédio pra dor de cabeça. Acho que no fundo ela dizia "tão nova, tão doente, cheia de dor, toda semana, coitada". E nunca tive tempo de me explicar. 

É que eu virei uma bagunça total. Mudei muito. Aprendi tanta coisa errando, quebrando a cara mesmo. E isso ninguém podia nem pode fazer por mim. 

Carrego meu mundo, toda semana, em uma mochila, aonde quer que eu vá. Virou companheira. Não consigo nem reclamar mais da dor nas costas. Carrego sem reclamar, Um dia, quem sabe, eu consiga parar de vez em um lugar, mesmo sabendo que o mundo é muito maior do que eu possa imaginar. E que parece que ando me acostumando a ser nômade, caminhar sozinha, mas com tanta gente e lembrança boa no coração.

Vida que segue. E eu, apesar de tudo, também.

3 comentários:

  1. Encha essa mochila de sonhos e de coragem! Vai pesar mais um pouquinho, mas acho que vai ficar mais tranquilo de carregar <3
    Muita força! Vai dar pé!
    Beijinhos!!!
    Camila, http://vaitercha.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Disse tudo, Camila.
      Olhar para o horizonte, criar coragem e esperar a vida ir surpreendendo. Porque ela sempre vai... E eu também!
      Um beijo!

      Excluir
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir