sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

O silêncio de uma filha


É a segunda vez que tento escrever algo sobre toda a situação de 2017. Primeiro de tudo iniciei o ano com um pinguinho de esperança de que muita coisa se resolveria, e realmente, muita coisa deu certo. Mas o que eu imaginava que podia acontecer e não esperava que fosse agora foi a ida do meu pai ao céu. É, não teve como estender mais tempo com a presença dele em corpo aqui. Agora será sempre em espírito.

Ele já vinha lutando de câncer há dois anos e dois meses e sinceramente, como todo mundo mudou com tudo isso. Quanta coisa a gente aprendeu, assim, na dor com muito amor. E nunca tinha me encontrado numa situação assim que eu não conseguisse escrever nada. Já tentei digitar outras vezes, e nenhuma palavra foi o suficiente para expressar tudo que se passa dentro de mim, apenas o silêncio tem resumido.

Confesso que é tão estranho chegar em casa e não ver o jornalzinho no canto, os sapatos no corredor, o chinelo na porta, o banheiro com o cheiro daquele sabonete que sempre foi único; tão estranho não receber o melhor abraço do mundo, ouvir a voz mais bacana, e dividir tantas histórias e sonhos com alguém que sempre me enxergou tão bem e me entendeu como ninguém.

Quando acordo já vou procurando pela casa aquele café, o salgado de frango, o bom dia mais especial. Não tem mais. Não tem mais nada disso. E coração fica brutalmente cortado. Sei que nunca foi desejo meu segurá-lo nessa vida em meio ao sofrimento, mas também nunca foi meu desejo perdê-lo.

Dá saudade. Todo momento dá saudade. E te juro que esse nunca foi o texto que imaginei escrever para o grande amor da minha vida: meu pai. Não consigo encontrar palavras, não tenho assunto e só sei sentir a saudade pesando no meu peito. Porque ali no canto tem um álbum cheio de fotos de momentos maravilhosos, do outro lado tem a almofada que me deu e na gaveta o colar de coração. E aqui dentro só tem um grito ensurdecedor pedindo aquele abraço de volta.

Pai, de onde você estiver, saiba que eu quero tanto te dar orgulho, quero continuar correndo atrás dos meus sonhos que sempre foram os seus. Quero continuar ouvindo das pessoas que pareço muito contigo, e quero te encontrar logo mais. Sei que vai acontecer, então aquele dia não foi uma despedida, e sim um até breve.

Te juro que farei de tudo para essa dor cessar e ficar apenas a saudade gostosa. Mas é que faz tempo que não ouço sua voz, não te dou um beijo nessa bochecha cheia de barba. E também faz tempo que não te encho de perguntas sobre a vida. Porém, papai, aguarde, qualquer dia chegarei com meus questionamentos todos que sempre te intrigaram e te impulsionaram a acreditar em mim. Te amarei para sempre, te amarei no céu, em qualquer lugar do mundo. 

A gente é do mar.
A gente sabe amar.
Que honra ser sua filha.

2 comentários:

  1. Lamento muito, pois, algumas pessoas são insubstituíveis.Conserve sempre as boas lembranças...
    Tenho certeza de que ele está orgulhoso por inspirar um amor tão grande assim.

    Beijos!
    Blog: *** Caos ***

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    1. Muito obrigada por suas palavras, Helena.
      O sentimento é indescritível.

      Beijo grande.

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