domingo, 20 de novembro de 2016

Desculpas aos vizinhos


É. Não tem jeito. Em um prédio desse tamanho eu preciso pedir desculpas a vocês por eu estar a alguns dias ouvindo músicas no último volume, as mais dolorosas possíveis, e por de madrugada misturar o som com choro. Pensei que ninguém estava notando, e lembrando que sem querer, tenho vocês.

Se desse para bater em porta em porta pra pedir perdão por ocupar o ouvido de todos, pensando bem, talvez eu iria fazer isso. Mas é que no momento mesmo, não estou conseguindo falar com ninguém. Acho que estão deduzindo tudo, né?

Tive que ligar todas essas canções porque o silêncio dentro de mim está muito mais alto. Precisava bater a porta forte naquele primeiro dia, porque não conseguia controlar minhas emoções. E vou contar, ainda venho tentando. Tá tudo tão difícil aqui dentro. Tudo preto e branco.

Mas fiquem tranquilos, qualquer dia eu troco as músicas tristes por outras mais alegres. E quem sabe aí sim terei ânimo para convidá-los a tomar cerveja embaixo do prédio ou aqui dentro mesmo. Porque eu preciso colorir as paredes do apartamento e da minha vida. Retomar os pensamentos.

Desde que conheci alguém, quando pensei que podia me encontrar, tropecei. Quando pensei que poderia me organizar, caí. Me machuquei tanto. E tudo aqui ainda dói. Não sei quanto tempo vai demorar, mas o som dessa casa só quer dizer o quanto a tristeza aqui está forte. 

Juro, vizinhos, espero sair dessa bem. Sei que vocês não conseguem reclamar pra mim o barulho que invade os corredores, porque no fundo estão vendo que mudei da água para o vinho. Antes ouviam risadas, hoje escutam meus soluços entrelaçados em canções.

Mas a verdade é que se vocês sentem muito,
imaginem eu.

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