segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Meu pai tem câncer


É verdade.
Mas é muito mais que isso. Acredita? Ele vai além. Meu pai tem todo o meu amor, cuidado, respeito, afeto. Toda a minha amizade, todo o meu carinho e minha atenção. Meu pai é incrível, é meu amigo, meu porto seguro.

Meu pai tem o jeito engraçado, mesmo no fundo se sentindo enjoado, triste, pra baixo. Meu pai tem o olhar de quem realmente acredita em mim, nos meus sonhos e meus planos. Meu pai apesar de tudo consegue ver além do que eu mostro, ele me analisa por dentro, sem críticas, mas me observa com seu amor. E me apoia. 

Meu pai é a pessoa mais especial da minha vida, e qualquer um consegue perceber isso. Não existe dia que eu não fale dele, que não diga o quanto ele é incrível e a paciência que tem comigo e com meus assuntos. 

Porque meu pai apesar de qualquer sessão de radioterapia ou quimioterapia, ainda tem tempo pra mim. Ainda faz questão de me ouvir, pergunta como foi meu dia, e diz que está lutando. Meu pai não se entrega fácil, juro. Aliás, ele não se entrega.

Ele é capricorniano, sabe. Mas é bastante bagunceiro, e ao invés de brigar, eu conto piada. Ele repete as mesmas histórias todo mês, aponta os mesmos prédios e confunde o nome dos filhos. Já cheguei a pensar que é só pra ficar engraçado, mas ele é exatamente assim, tive que reconhecer e admitir.

Meu pai me ensinou a andar de bicicleta, tentou que eu aprendesse a nadar, conseguiu me ensinar a tirar dinheiro no caixa eletrônico, me levou todos os anos no colégio, assinou minhas notas baixas, me incentivou a melhorar, sempre acreditou no que eu disse e continua me ensinando o jogo da vida.

Essas foram umas das poucas coisas que resolvi citar. Mas resumindo, ele me ensinou a ser quem sou, e todo dia me ensina ainda mais. Foi ele que me deu aqueles lindos copos de leite no meu aniversário, que me ajudou a me matricular na faculdade, me buscou nas sextas e me deixou na nova casa aos domingos.

Foi meu pai que me levou ao show de KLB, RBD, Justin Bieber e Backstreet Boys. Foi ele que achou graça dos meus sonhos e ainda passou comigo no McDonald's pra lanchar e dividiu a torta de banana. Foi pra ele que fiz o brigadeiro do fim de semana, pra adoçar a vida que tem sido dura demais.

A verdade é que meu pai é muito mais do que alguém com uma doença chata, porque afinal, eu nunca consegui olhá-lo com pena. Meu olhar sempre foi de: poxa, esse tem coragem, é forte, batalha. Que sorte a minha de te-lo ao lado.

Foi meu pai que sentou ao lado da cama pra me contar a história do palhaço da perna de vidro que bambeava na corda, quando eu não conseguia dormir. E ainda preparou inúmeras vezes resfenol misturado com mel. Me deu coca depois de tantas vezes eu ter vomitado. E preparou vitaminas de abacate pra eu largar a chupeta. Conseguiu me convencer.

Ah, pai. Eu tento, tento, tento e não consigo dizer o quanto o sentimento fica preso aqui na garganta. Meus dedos travam e juro que fico buscando palavras pra dizer o quanto você é especial.

Pai, a vida não é fácil mesmo. Mas eu estou aqui para te acompanhar. Para tirar do travesseiro seus cabelos que caem, para te cobrir a noite, preparar sua vitamina e segurar seus remédios enquanto espero você tomar água gelada.

Ah, meu amor, já imaginei tantas histórias para gente. Nós no Hawaii, nós no tapete brincando com Henrico e Antonella, e eu contando o quanto aproveitamos juntos nas estradas do Brasil. Para contar para esses meus futuros filhos o porquê eu gosto tanto assim de pagode, e quem que sempre deixou ouvir John Mayer bem alto com o vidro do carro aberto.

Sigo em paz pois te tenho comigo. Não quero saber do amanhã. O hoje é eterno.
Te amo, meu velho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário